ultimamente tenho tido muitos insights assistindo filmes. Não que eu não tivesse antes, mas nos últimos meses voltei a assistir muito mais filmes, e de todos os gêneros possíveis (muito por influência do meu namorado). O último filme que fomos ver no cinema foi Sing Sing (que aliás, um lindo filme, mas vou utilizar ele um pouco fora do contexto geral cujo qual a obra trata), e ele me fez ter uma reflexão durante um diálogo entre dois personagens.
Ambos estão numa situação que ninguém quer estar: presos. Algo que eu nem consigo imaginar como seja difícil. E nessa cena que me inspirou a pensar um pouco em como eu levo minha própria vida, os dois compartilhavam histórias lindas sobre a vida, lembranças boas da infância, momentos de afeto com a família, e por aí vai. uma conversa leve perseverando num ambiente tão carregado de coisas ruins, por pessoas cuja trajetória não havia sido nada fácil. E mesmo assim, eles resistem. São essas as histórias que eles decidem contar.
Foi aí que me peguei pensando, ali mesmo na sala do cinema, em como eu não costumava falar sobre as coisas bonitas que já me aconteceram. As lembranças boas guardadas na minha memória quase não são compartilhadas, já as ruins figuram entre os tópicos que eu costumo falar. E não é que eu só fale disso ou que eu ache errado quando falo sobre. Falar sobre certas coisas que me aconteceram com pessoas com quem me sinto confortável me faz bem, também. E entendi que isso faz parte do processo de lidar com tudo.
Mas…será que eu não deveria dar mais atenção para as partes boas? Tratar essas memórias com zelo, e também as compartilhar com quem eu amo? Será que essas memórias boas não podem ajudar outra pessoa a enxergar também o lado bom de uma vida por tantas vezes amarga? E me ajuda a levar essa vida com mais leveza? Afinal, quais são as histórias que estou escolhendo contar?
Já fazem alguns anos que estou numa jornada de tentar não deixar as coisas tão pesadas - mais pesadas do que já são -. Não me entendam errado, odeio a tão famosa positividade tóxica e já aceitei que a vida vai ser ruim muitas vezes, e as vezes simplesmente não temos como fugir disso. Mas temos como tentar mudar nosso jeito de levar as coisas. Eu realmente tento ver beleza nas pequenas coisas (clichê até demais): quando um neném sorri pra mim na rua, quando eu vejo uma florzinha bonita florescendo no caminho pro trabalho, quando passo por um casal mais velho de mãos dadas. Esse é meu jeito de tentar romantizar minha vida, porque sem isso acho que o peso acaba ficando…pesado demais. Preciso ver as coisas boas, mesmo que isso acabe sendo um esforço maior em alguns dias. E acima de tudo, quero falar sobre as coisas boas e bonitas. Essas que eu deixo bem guardadas e quase nunca as revisito. Elas merecem ser revisitadas.
Eu quero falar sobre meu vô, e de como era boa a época em que ele me levava pra escola, segurando minha mão e contando o máximo de histórias que cabiam no curto trajeto que fazíamos. Quero falar de como ele costumava também fazer com que eu não fosse pra escola, nas vezes em que eu fazia manha de criança e nisso ganhava colo e canções pra me acalmar. Quero contar a história da primeira palavra que eu escrevi: pituca, o apelido que ele tinha me dado. Quero falar de como não dói mais a saudade que sinto dele, porque ela virou saudade boa, de quando a gente relembra tudo que a pessoa foi com carinho e vê ela em todas as coisas.
Quero falar das minhas irmãs, e das mil histórias nossas que tenho para contar Das guerras de travesseiro e de meias enroladas. De quando elas faziam meu penteado da escola, e mais tarde minha maquiagem para ir em festas. Das brigas que quando aconteciam eram tão sérias e quando contadas hoje em dia são motivo de piada. De todos os choros meus que minhas irmãs mais velhas acalentaram, e de como sem elas eu não seria a pessoa que sou hoje.
Quero falar da minha mãe e das histórias que ela contava para que eu dormisse, mas ela quem acabava pensando no sono. Falar sobre todas as cartinhas que eu escrevia pra ela desde pequena, e como ela conseguiu mantér várias guardadas. Quero contar como eu amava quando ela me levava pro trabalho, onde tinha uma biblioteca e eu podia passar meu tempo fazendo o que eu mais amava, e ainda íamos comer coxinha no fim do dia (por acaso tem coisa melhor que isso?).
Quero também falar de mim e dos amigos que amo. Das palhaçadas que eu fazia no ensino médio. Dos gibis que eu lia quando ia pra praia. Do livro que eu escrevi com uma amiga na adolescência. Da festa de aniversário surpresa que eu ganhei uma vez. Dos gatinhos na rua que respondem meu pspsps. Das pessoas que já me disseram algo bom. De como eu amo tomar sol e tomar um nescau gelado logo cedo.
Eu poderia escrever mais mil parágrafos sobre todas as coisas bonitas que me cercam. E eu quero falar de todas elas, porque elas aconteceram e continuam acontecendo, pois essa é a vida que eu escolhi levar. Não vai ser sempre tão fácil achar o bom e o bonito em meio à tudo, mas eu sei que essa vida que venho levando até agora sempre valeu e vai valer ser vivida. E reafirmar isso é tudo que eu preciso as vezes.